Eu preciso escrever. Preciso escrever como uma atividade vital para o entendimento, a reconciliação, o desaguar de uma nascente em um rio que só eu conheço. Não estou oferecendo nada ao escrever, tão pouco estou pedindo ou estabelecendo qualquer juízo. O que escrevo se esvai de mim no exato momento em que escrevo, não me reconheço em nada do que ficou no papel. Estou em um lugar que me lembra minha própria infância, estou finalmente de volta a algum lugar que me acolhe, que é abrigo. Aqui estou em paz com aquilo que sou, com o que sinto, com o que anseio do mundo. Veja você quantas voltas eu tive que dar para chegar a algum lugar, veja quantos amigos perdi, quantas ruas desertas andei e no fim descubro um jeito muito especial de me conhecer, de me amar. Não, eu não vou levantar bandeira alguma, não vou defender nenhuma revolução, nem passar receita sobre nada. O caminho de cada pessoa é único, de nada me valeu as bulas que me deram para ler, o efeito colateral foi muito maior que o esperado e só eu sei o quanto me custou a cura. Observo através de uma estrela a estranha alquimia que rege a vida e me sinto tocada pela paz. Me ocorre agora que talvez eu só escreva para ser capaz de ver através de estrelas...Eu preciso escrever.
Ana Fenner
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