07 abril, 2009

Solitária


Ela chorou uma dor sentida, dor de cansaço, de perda, de medo, se aproximou e segurando a jaqueta dele recostou a cabeça em seu ombro.
Esta é a recordação mais forte que tenho do ultimo ano, depois disso eu passei a chorar declaradamente por qualquer motivo, ou ainda pelos mesmos. Morar sozinha é uma experiência única, complexa e dúbia. O silêncio faz companhia até você descobrir que silêncio absoluto por muito tempo pode levar a loucura e ai inventa-se com quem conversar... conversa-se com o nada, conversa-se com o espelho. E de frente para o espelho passa a chorar e depois de muito chorar enxuga as lágrimas (se você não fizer ninguém o fará) e começa a rir. A lucidez vai embora, o bom senso se esvazia e qualquer pessoa ganha potencial para melhor amigo. Morar sozinho não é uma experiência ruim, é apenas uma experiência solitária. E diante dos reflexos desta experiência a gente se vê amadurecendo, se vê perdendo o medo antigo (adquirindo outros). Morar sozinho faz com que se passe a sonhar acordado, a liberdade e a afetividade passam a ter outra dimensão, eu fico a imaginar como seria minha vida se não tivesse passado a morar sozinha, provavelmente muito mais fácil, mas também eu não teria amadurecido tanto, eu não teria experimentado tanto, eu não teria tomado a minha vida em minhas mãos. Nada é fácil, mas afinal alguém disse que seria?
Ana Fenner

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