Deixo a mala pronta, me arrumo com esmero, troco a envergadura que serviu de escudo e confiro as fechaduras. Descuido da solidão, negligencio as cicatrizes, disfarço o caminho que me trouxe até aqui. Abandono os novos hábitos, ligo para os velhos amigos, pesco da memória a moça de antes, tiro poeira das paixões. Na rua dou com o mar e me despeço também, não sinta saudades que meu regresso é preciso. Volto o olhar para o que me motiva, dou de encontro com os braços abertos, tem gente me esperando no portão. É pra lá que eu vou, onde as ruas são velhas conhecidas e o amor mais seguro. Mas não faça alarde da minha partida, nem sofra com minha ausência, volto em breve com a mesma perseverança de quem recomeça todos os dias uma vez mais.
Ana Fenner