11 maio, 2010

Regresso


Deixo a mala pronta, me arrumo com esmero, troco a envergadura que serviu de escudo e confiro as fechaduras. Descuido da solidão, negligencio as cicatrizes, disfarço o caminho que me trouxe até aqui. Abandono os novos hábitos, ligo para os velhos amigos, pesco da memória a moça de antes, tiro poeira das paixões. Na rua dou com o mar e me despeço também, não sinta saudades que meu regresso é preciso. Volto o olhar para o que me motiva, dou de encontro com os braços abertos, tem gente me esperando no portão. É pra lá que eu vou, onde as ruas são velhas conhecidas e o amor mais seguro. Mas não faça alarde da minha partida, nem sofra com minha ausência, volto em breve com a mesma perseverança de quem recomeça todos os dias uma vez mais.
Ana Fenner

08 maio, 2010

Contramão

Desafino
Minha alma não reconhece as notas, toca por instinto. Meu corpo desequilibra em meio à dança, juram por ai que é molejo. Eu já não canto as avessas nem transbordo em uma esquina qualquer.
Meu ritmo se desnudou entre uma melodia e outra, fiquei entre as linhas da sua imaginação. O salão pede bis, exige um novo passo, me recuso, desacelero...
só reconheço o descompasso.
O meu samba não é de raiz, meu rock não é pop, nossa canção é minha mais pura invenção.
No compasso do cordel minha essência é dançante, sigo a cadência no passo do teu gingado. 
Ana Fenner