21 dezembro, 2010

Há sempre amor

Quando menina minha mãe cantarolava sempre “Se você pode ser assim, tão enorme assim eu vou crer”. Era “nossa” música oficial e hoje sou eu a cantarolar baixinho a menina do espelho : “Quero ver o amor vencer, mas se a dor nascer, você resistir e sorrir.” Assim afago minha alma , assim minha crença se vê renovada.


"Quero ver você não chorar,
Não olhar para trás,
Nem se arrepender do que faz.
Quero ver o amor vencer
Mas se a dor nascer,
Você resistir e sorrir.
Se você pode ser assim,
Tão enorme assim eu vou crer
Que o Natal existe
E ninguém é triste
Que no mundo há sempre amor.
Bom Natal, um Feliz Natal,
muito amor e paz pra você,
pra você."


15 dezembro, 2010

Hoje Não


Não sei fazer ¨jogo social¨.
Até saberia, mas não me interessa, tenho preguiça.
Caio F.

30 novembro, 2010

Customizar, recriando a própria vida



Leveza de pluma, coração de moça. Com que delicadeza tece verdades e com que carinho bordas esse amor.
Costurando retalhos, juntando amigos, trançando histórias.
Nesse vai vem, entre a linha do tempo e a agulha dos sonhos, enfeita a própria essência.  

28 novembro, 2010

Felicidade

"Eu sei que vou. Insisto na caminhada. O que não dá é pra ficar parado. Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim. O destino da felicidade, me foi traçado no berço"
Caio F.

26 novembro, 2010

Aniversário

"Aniversário: Espécie de relicário,
Muitíssimo bem guardado
Nas folhas do meu diário,
Dos versos que eu escrevi,
Com todo amor, e não li,
Durante o ano passado."

Meus 24 Desejos Para os Meus 25 anos

Que eu não perca o olhar encantado sobre todas as coisas.
Que eu continue acreditando na ternura e na força dos afetos sinceros.
 Que eu permaneça acreditando na mágica do natal.
Que eu saiba ouvir mais.
Que eu tenha sempre bons e velhos amigos.
Que a distância não se torne abismo.
Que eu possa sempre conhecer novas pessoas de diferentes credos, gostos e raças
Que o amor encontre sempre moradia em mim
Que ódio continue sendo uma palavra desconhecida e estranha
Que meus pés sigam sempre o caminho da liberdade
Que eu nunca confunda liberdade com solidão e egoísmo
Que a felicidade continue nos pequenos milagres diários
Que eu continue achando sorvete a coisa mais gostosa do mundo
Que crianças continuem me conquistando apenas com um olhar
Que eu saiba reconhecer minhas falhas e defeitos,  mas não viva nunca da culpa
Que eu seja generosa com aqueles que precisem de mim
Que eu diga não para tudo o que me é ofensivo
Que o mar continue sendo paixão
Que cachoeira signifique sempre dias felizes
Que eu me orgulhe sempre da pessoa que sou
Que eu acredite sempre na doçura dos beijos
Que haja sempre a possibilidade do recomeço
Que a fé seja minha morada e Deus meu mais terno abrigo.
Que a vida continue sempre sendo este misterioso e grande milagre
Ana Fenner

"Toda Felicidade que hover nesse mundo"

Estou em plena festa.  Estou comemorando cada pequeno passo, cada grande vitória. Estou comemorando os amores que tive, os amigos que fiz. Estou comemorando a capacidade de reciclagem, a capacidade de amar e de recomeçar.  Estou festejando a família que tenho, a fé que me alimenta. Mas se acaso nada disso for suficiente, diga apenas que estou comemorando aquilo que há de mais divino: a vida.
Ana Fenner

17 novembro, 2010

Abstrações

É só fechar os olhos e dormir.
No entanto, minha mente insiste em tiquetaquear junto ao relógio da parede idéias tão abstratas quanto o pulso da vida
Ana Fenner

"E toda noite de insônia eu penso em te escrever, pra dizer que teu silêncio me agride"
Enganheiros do Hawai 

16 novembro, 2010

Esperança

"Foram-se os amores que tive ou que me tiveram
Partiram num cortejo silencioso e iluminado
O tempo me ensinou a não acreditar demais na morte
Nem desistir da vida
Cultivo alegrias no jardim onde estamos eu, os sonhos idos, os velhos amores e seus segredos
E a esperança que rebrilha como pedrinhas de cor entre as raízes"
Lya Luft

04 novembro, 2010

"Camaleoa"

Um dia pensei que escrevendo não esqueceria, que se fotografasse o suficiente prenderia o momento e todas as sua emoções.  Tolice. Todas aquelas palavras e imagens não revelam em nada o que sou, dizem respeito à pessoa que fui a um segundo atrás, mas ainda assim uma completa estranha. Sou dessa inconstância de camaleão, nunca me repito.
Ana Fenner

07 outubro, 2010

Amar é liberdade

"Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar "
Rubem Alves

02 outubro, 2010

Sobre o Verão e o Amor

Da Janela que dá para o mar antevejo o verão que estar por vir. 
O verão com sua cor dourada se derramando sobre as pessoas, 
o verão e suas promessas de paixão adolescente, 
as meninas e seus vestidos estampados, 
os amigos de uma vida sob o sol de janeiro. 
Ele vem e não é pra já, 
o verão não tem pressa de chegar assim como o amor ,
vem com o molejo da bossa nova, 
com a calmaria das palmeiras na avenida principal. 
O verão pode esperar, o amor sabe esperar.
Não sei se trata de um ou de outro, 
no entanto minha alma renuncia o desassossego das horas só para vê-lo chegar. 
Ana Fenner

Por Entre Estrelas

Eu preciso escrever. Preciso escrever como uma atividade vital para o entendimento, a reconciliação, o desaguar de uma nascente em um rio que só eu conheço. Não estou oferecendo nada ao escrever, tão pouco estou pedindo ou estabelecendo qualquer juízo.  O que escrevo se esvai de mim no exato momento em que escrevo, não me reconheço em nada do que ficou no papel. Estou em um lugar que me lembra minha própria infância, estou finalmente de volta a algum lugar que me acolhe, que é abrigo. Aqui estou em paz com aquilo que sou, com o que sinto, com o que anseio do mundo. Veja você quantas voltas eu tive que dar para chegar a algum lugar, veja quantos amigos perdi, quantas ruas desertas andei e no fim descubro um jeito muito especial de me conhecer, de me amar. Não, eu não vou levantar bandeira alguma, não vou defender nenhuma revolução, nem passar receita sobre nada. O caminho de cada pessoa é único, de nada me valeu as bulas que me deram para ler, o efeito colateral foi muito maior que o esperado e só eu sei o quanto me custou a cura. Observo através de uma estrela a estranha alquimia que rege a vida e me sinto tocada pela paz. Me ocorre agora  que talvez eu só escreva para ser capaz de ver através de estrelas...Eu preciso escrever.
Ana Fenner

18 setembro, 2010

Deixa Brilhar

"Sabe, para mim a vida é um punhado de lantejoulas e purpurina que o vento sopra. Daqui a pouco tudo vai ser passado mesmo - deixa o vento soprar, let it be, fique pelo menos com o gostinho de ter brilhado um pouco... "
Caio F.

11 setembro, 2010

Novos Olhares

Sou de Belo Horizonte MG, uma cidade boêmia e sinuosa. Mudei-me para Vila Velha ES, uma cidade que está em pleno crescimento, de uma beleza quase rústica.
Descobri o significado da palavra saudade, redescobri amigos. Dei-me ao mar e ele me corou com sua beleza infinita.
Daí meu olhar em palavras e imagens da descoberta de uma cidade e tudo o que advém da travessia:

Foto: Ana Fenner

09 setembro, 2010

À Rigor

 Aparento indiferença, no entanto
quero tanto e com tanto rigor 
que me acovardo diante da perspectiva de não alcançar
Ana Fenner

Meu Tipo

Sou apenas o meu tipo inesquecível , 
apesar de, às vezes, me achar uma porcaria”  
 Elis Regina

04 setembro, 2010

Por um dia mais azul


Tenho um pé de Felicidade plantado no meio da imaginação. 
Ana Fenner

03 setembro, 2010

Alegria

"Recuso-me a ficar triste.
Sejamos alegres. 
Quem não tiver medo de ficar alegre e experimentar uma só vez sequer a alegria doida e profunda terá o melhor de nossa verdade.
Eu estou - apesar de tudo, oh; apesar de tudo -, estou sendo alegre neste instante-já que passa se eu não fixá-lo com palavras. 
Estou sendo alegre nesse mesmo instante porque me recuso a ser vencida:
Então eu amo. 
Como Resposta."
Clarice Lispector

01 setembro, 2010

Eu preciso saber


r

"E foi assim que terminou.
Contudo não há um dia em que eu não pense naquela paixão.
Acho que eu estava tão cega que ignorei todos os indícios do passado dele.
Vivo imaginando o que teria acontecido se não o tivesse visto naquela manhã...
Dois anos depois eu o vi mais uma vez.
Sei lá.Talvez alguém da planície como eu não possa viver nas alturas.
Talvez não tivesse sido possível manter o que tínhamos.
Talvez.Bem, é isso que eu digo a mim mesma."
Heather Graham como Alice em Mata-me de Prazer

31 agosto, 2010

Me interna

"Pedi pra mãe – me interna, to infeliz pra caralho.
Tequila, café e cigarros exatamente nessa ordem me preenchiam. Aquela velha história do amigo engarrafado me era completamente aplicável, não havia companhia melhor. Porque eu não desejava conversar, pessoas se preocupam demasiadamente e eu não precisava de especulações, conversas enfadonhas e repetir tudo o que estava acontecendo comigo. Não. Eu não quero falar sobre isso. Isso o quê? Se eu tivesse noção do que era. Acontece que esses dias estão tortuosos e eu não desejo levantar-me daqui, a poltrona já adquiriu o formato do meu quadril e a TV me dá o entretenimento necessário para continuar trancafiada aqui. Sossego é o que eu quero. Desde que ele fora embora eu ouço versos que me falam sobre amores arruinados, o coração já não bate, esquecera completamente o tal do Tum-tum-tum. Será que o coração bate assim? Há algum tempo que não sei como ele reage, porque os dias estão vazios. Sabe toda aquela ideologia de que é possível viver sozinho? Pois é. Acreditava nisso piamente porque ele estava ao meu lado, agora que se foi tudo é cinza. E eu chorei um oceano inteiro essa noite. Eu precisava esvaziar. Porra eu preciso ser internada."
Caio F.

26 agosto, 2010

Luxo





Das fantasias de menina 
aos desejos de mulher, 
dei-me sempre o luxo de sonhar.
Ana Fenner

Exagero


 "Comovo-me em excesso,
por natureza e por ofício.
 Acho medonho alguém viver sem paixões."
Graciliano Ramos

19 agosto, 2010

Ousadia


Acontece que hoje eu estou politicamente incorreta, meio louca, meio cúmplice. Mudo a rota, reinvento o traço. Enfrento qualquer parada, dou a cara à tapa, eu não fico em cima do muro. Eu bato a sua porta, berro aos seus ouvidos, estou curiosa dos limites da sua força, estou querendo saber até quando você vai fingir que não é com você. Minha honestidade te fere, meu jeito desleixado te incomoda, mas você me beija e diz que volta logo. Não suporto esperas, minha ansiedade me consome, eu detesto despedidas. Não sou boa com meias palavras, não sei ser educada o bastante ou santa o suficiente. Eu vou te sussurrar umas tolices, eu vou te roubar pra mim. Vou esquecer o passado recriar o futuro, te pedir um presente. Eu estou querendo saber se sua moral dá conta da minha.
Ana Fenner

Dez cervejas e eu ainda não consigo te perguntar se está tudo certo contigo, ou se é contra a sua moral dançar comigo.E te desejo a coragem, os olhos brilhantes pra ver. Mas percebo que você não é o único a me salvar e expectativas são uma merda.Se há lições a serem aprendidas, prefiro obter palavras atravessadas então.Te direi algo que descobri. Que o mundo é um lugar bem melhor quando de cabeça pra baixo.

Ida Maria

Um novo amenhecer

Um filete de sol entra pela fenda na janela e me atinge em cheio. Simples são todas as coisas que me completam, suave é tudo aquilo que me conquista. É sonho, é sim. É tudo que eu sonhei pra mim. É pedaço de vida, é minha vida sim senhor. É criar asas e descobrir um mundo além do que se tem... do alto da montanha é que se vê o tamanho real de cada coisa. O jardim está repleto de pequenas delicadezas e meu corpo se embala na cadência de um novo alvorecer. Eu não sei ser outra que não esta que te corteja a cada amanhecer.
Ana Fenner
“O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam. Verdade maior.”     
Guimarães Rosa

À deriva

 Eu estou fazendo um esforço imenso para parecer natural 
e esta na cara que esta tudo, menos natural. 
Eu me lembro de respirar o tempo todo, 
contraditoriamente estou sufocando.
Ana Fenner

18 agosto, 2010

De hoje em diante


Venha em meio ao desproposito, me venha doce, incansável e feroz.  Venha firme, certo e até um pouco inseguro. Seja humano, verdadeiro e egoísta... Queira-me só pra você. Enfrente os fatos, desconsidere os chatos e me tire pra dançar. Compre brigas, desfaça as malas e fique comigo. Confunda suas pernas, as minhas e todos os sentidos. Divida a casa, a cama e o meio termo. Evite a mesmice, a rotina, o certo, me enfeite com estrelas catadas ao vento, que eu quero mais é ser sua menina.  Daqui pra frente você segura minha mão e eu conquisto seu melhor sorriso. Daqui pra frente quero ter borboletas no estômago todos os dias.
Ana Fenner

12 agosto, 2010

Para Maria da Graça

 " Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas. Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.    
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.
A realidade, Maria, é louca.  
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?"
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é o lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.   
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada, e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg yuor pardon!" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostaria de gatos se fosse eu?"
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! Mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "Minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance é só o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma de gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nosso domínio disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor.
Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamamos de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
 Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.
"

Paulo Mendes Campos, Para Maria da Graça, 1979.

11 julho, 2010

Florescer


Chove chuva
vem molhar meu quintal
e lavar a alma.
Chove manso no telhado
invade a grama
traz a novidade.
Tromba d água que inunda meu ser
submerge minhas certezas
deixa cheiro de mato molhado por toda casa.
 Vou banhar-me em tuas águas, fazer-me ribeirão.
Vou cantar- te nos ventos
perder-me nas tuas águas
renascer junto às flores do campo.
Chuva é uma oportunidade de brincadeira,
de aconchego no balanço da tarde,
de guardar-me dos redemoinhos de vento.
Chuva é deixar florescer uma esperança tardia
bem no meio da imaginação.
Ana Fenner

26 junho, 2010

Bagagem


"Pra vocês eu deixo o sono,
o sonho não,
Este eu mesmo carrego"

Leminski

19 junho, 2010

Alvorada

Na alvorada do caminho, surge um novo dia. Daqui antevejo tuas cores pálidas, o outono a assoviar suas novidades no parapeito da janela. O que o amor tem de bonito é isso, está sempre à beira do que é efêmero. Aceita correr livre sabendo que o destino do rio, independe das voltas que dá. O céu confidencia ás estrelas que toda tristeza se finda no encontro com as ondas do mar
Ana Fenner

10 junho, 2010

" Como uma bandeira ao vento"

 
Senhoras e senhores a copa de 2010 se iniciou hoje, com um show de abertura no mínimo repleto de significados. Uma copa realizada em plena África quer dizer muito mais do que pernas e bola, quer falar de educação, quer falar de igualdade, quer estampar o mundo inteiro com suas cores vibrantes e natureza exótica. Um país que declara seu passado, um homem que se veste de uma nação e muda o rumo de uma história. Só pela biografia já vale a pena ser assistida, imagina só quando a meta se torna educação, logo nós acostumados com jogadores de futebol que em sua maioria titubeiam no uso de verbos e pecam na ora de cantar o hino do país que literalmente vestem a camisa. Imagina só uma copa em que o slogan é “ 1 goal for education” , me convenceu de cara. E para melhorar as coisas eu amei a música oficial. Não bastando isso confesso, sou apaixonada pelo que os esportes provocam nas pessoas, adoro essa sensação de objetivo comum, da minha voz ecoar junto com outras mil em um estádio (ou em um bar qualquer), não tanto pelo esporte se é que me entendem, mas pelo espetáculo que ele promove. Se nada disso lhe convenceu (e não é esse o objetivo) tudo bem, basta que você também encontre motivos para comemorar. Podem ser motivos “banais” como brincadeira de criança ou “fundamentais” como um novo emprego, não importa, basta que você seja livre “como uma bandeira ao vento”. 
Ana Fenner

09 junho, 2010

Doce ou travessura?

Escandalosamente toca em algum lugar e eu gosto de sua voz aguda, da sua gravidade improvisada, da vida entorpecida. Um sabor agridoce de verdades insuportáveis, de uma leveza ruidosa e riso solto. Suave como as brisas do outono, tempestiva como as chuvas de verão. Um beijo ardente bem no meio dos teus devaneios, trazer você bem junto a mim. Sorver o calor do teu hálito de menta, desfazer tuas metas, desafiar seus interesses.
Se me atiro, se enlouqueço, se te viro pelo avesso, se te enfrento de cara lavada é que não sei ser outra. Se canto alto, se desafino, se te aborreço, se te ignoro, se me desfaço de você, se te convido, se te levo comigo é por te querer de novo.
Ana Fenner

08 junho, 2010

Coragem, um cão covarde

"Resta esse constante esforço
para caminhar dentro do labirinto

Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo,
e esse medo Infantil de ter pequenas coragens."

Vinicius de Moraes

11 maio, 2010

Regresso


Deixo a mala pronta, me arrumo com esmero, troco a envergadura que serviu de escudo e confiro as fechaduras. Descuido da solidão, negligencio as cicatrizes, disfarço o caminho que me trouxe até aqui. Abandono os novos hábitos, ligo para os velhos amigos, pesco da memória a moça de antes, tiro poeira das paixões. Na rua dou com o mar e me despeço também, não sinta saudades que meu regresso é preciso. Volto o olhar para o que me motiva, dou de encontro com os braços abertos, tem gente me esperando no portão. É pra lá que eu vou, onde as ruas são velhas conhecidas e o amor mais seguro. Mas não faça alarde da minha partida, nem sofra com minha ausência, volto em breve com a mesma perseverança de quem recomeça todos os dias uma vez mais.
Ana Fenner

08 maio, 2010

Contramão

Desafino
Minha alma não reconhece as notas, toca por instinto. Meu corpo desequilibra em meio à dança, juram por ai que é molejo. Eu já não canto as avessas nem transbordo em uma esquina qualquer.
Meu ritmo se desnudou entre uma melodia e outra, fiquei entre as linhas da sua imaginação. O salão pede bis, exige um novo passo, me recuso, desacelero...
só reconheço o descompasso.
O meu samba não é de raiz, meu rock não é pop, nossa canção é minha mais pura invenção.
No compasso do cordel minha essência é dançante, sigo a cadência no passo do teu gingado. 
Ana Fenner

28 abril, 2010

Eu acredito

Eu quero me dar o direito de acreditar em tudo que é pássivel de ser imaginado.
Ana Fenner

"Me deixa brincar de ser Feliz"



Corro pelo asfalto, com vista para o mar. Eu mudo a rota, reinvento o traço. Eu conheço aquela esquina reconheço aquele olhar. O vento sacode a poeira, o vento bagunça os cabelos meus. Eu não me faço de rogada, vou de encontro ao mar. O que eu não gosto é do meio termo, sou dos extremos, a minha dor não me cabe, a alegria me extravasa, o que eu não sou é meio do caminho. Quiçá descobrir a minha natureza, desvendar os meus segredos. Pensando bem, esquece isso, deixa pra lá. Puxa uma cadeira, vem ver o sol, vamos brincar de ser feliz.
Ana Fenner

Bons Presságios


A esperança me chama e eu salto a bordo como se fosse a primeira viagem. Se não conheço os mapas, escolho o imprevisto: qualquer sinal é um bom presságio. Seja como for, eu vou, pois quase sempre acredito: ando de olhos fechados mas não desisto. A dor eventual é o preço da vida: passagem, seguro e pedágio
Lya Luft

27 abril, 2010

Desejo


Convida-me para uma ultima dança?
Ana Fenner

24 abril, 2010

Assim sou eu



Sou uma céptica que crê em tudo
uma desiludida cheia de ilusões
uma revoltada que aceita, sorridente
todo o mal da vida
uma indiferente a transbordar de ternura.
Grave e metódica até à mania
atenta a todas as subtilezas de um raciocínio claro e lúcido
não deixo, no entanto,
de ser um D. Quixote fêmea a combater moinhos de vento
quimérica e fantástica
sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida
num dar de mim própria que não acaba
que não desfalece, que não cansa.

Florbela Espanca

21 abril, 2010

Caminhos do perdão


Há um descampado em meio ao jardim e nele não há flores, não há beleza, não gosto de passear por ali principalmente porque aquele trecho me remete uma história que eu não quero lembrar e contraditoriamente não consigo me esquecer. Aquele pedaço de terra me lembra inclusive da minha fragilidade humana, dos sentimentos menos nobres que tenho como o orgulho, a raiva e uma imensa dificuldade em perdoar quem me feriu sobremaneira. Aquele pedaço do jardim provoca um vazio imenso no peito e vez ou outra a dor aperta. Espero que você entenda a sinceridade com que escrevo estas palavras e compreenda acima de tudo que não é apenas uma dificuldade em perdoá-lo, mas de perdoar a mim mesmo. É difícil imaginar que eu errei tantas vezes também e que faltei com a verdade em não assumir meus erros. A minha felicidade esbarrou na sua antes mesmo que eu tomasse conhecimento de quem você era e do que representaria para mim. O meu afeto e acolhida foi pouco diante da sua perda, talvez você nunca me perdoe pelo que sem querer minha felicidade te causou e eu hoje consigo imaginar o imenso vazio que te sobrou em anos que foram para mim os melhores. Você tirou de mim não somente o material, você criou uma distancia imensa entre tudo o que me era caro, você me mostrou um lado feio da vida, você me mostrou o mundo em que vivia e que eu não estava preparada para enfrentar. A minha culpa consiste em não ter tentado mais, em não ter insistido e de raiva e magoa ter fugido.
Ainda não consigo perdoar nem a você nem a mim por inteiro, mas hoje quero que saiba que plantei nesse pequeno descampado uma semente chamada perdão e à medida que ela desabrocha, cresce em mim este sentimento sublime e quem sabe um dia você também possa me perdoar. E o meu jardim volte a ter ali flores e borboletas.
Ana Fenner
“talvez você tenha que declarar seu perdão uma centena de vezes no primeiro dia e no segundo dia, mas a cada dia serão menos vezes, até que um dia você perceberá que perdoou completamente.”

Fantasias de Amor




Eu quero mais



Ser mulher não me basta. Quero mais que um dia para celebrar aquilo que sou com unhas, carnes e dentes. Quero não ser lembrada apenas por minha “fragilidade”, mas quem sabe pela minha força que não é bruta, quem sabe por minha ternura que persiste.
Ser mulher não me basta, chega de feminismos que não me convencem, chega dessa igualdade meio tola, quero sim ser diferente.
Quero que você descubra que posso pagar a minha conta, trocar um pneu e consertar o cano da pia, mas quero que uma vez ou outra você faça isso por mim, apenas por afeto. Quero sim flores, porque gosto de flores e isso não me torna inferior. Eu me recuso a ver você bancando o machista, sendo o ditador de um relacionamento por vezes unilateral, quero teu lado nobre, quero um amor (re) inventado.
Um dia para ter seus elogios me parece pouco, quero ter o seu melhor quando eu te mostrar o meu pior, quero teu afago em dias de megera. Ser mulher não me basta, não é por isso que quero ser lembrada.
Quero ser lembrada por minha sutileza, por minha doçura, por minhas qualidades, não vá levar tão a sério minhas falhas.
Ser mulher não me basta, quero ser essência e muito mais.
Ana Fenner